O sódio é mais uma daquelas coisas que a mídia e a cultura moderna nos ensinaram a temer. Difícil contar no supermercado quantos alimentos com “baixo sódio”ou “teor de sal reduzido” existem por ali. Também é imenso o número de pessoas que conferem rótulos procurando a concentração de sódio até da água e incontável aqueles que retiraram o sal da dieta, contando com uma melhora da saúde, especialmente na pressão arterial. Mas será que isso é realmente necessário e eficaz?
Voltando um pouco na história, percebe-se que o sal virou um vilão na década de 80, quando um estudo constatou a relação entre o consumo de sal e os níveis de pressão arterial. O maior achado foi o de que civilizações menos desenvolvidas como índios Yanomamis consumiam pouco sal e tinham níveis pressóricos muito mais baixos, mesmo pessoas mais velhas. Porém, na tribo dos Kuna, no Panamá, foi feito um teste separando a tribo, sendo que um grupo manteria os mesmos hábitos porém comeria mais sal. Resultado: os níveis de pressão dos dois grupos seguiram iguais, mesmo com um deles ingerindo o dobro de sódio que o outro.
Está comprovado que reduzir bastante o consumo de sal pode baixar em alguns pontos (poucos) os níveis de pressão. Mas a experiência com os índios nos mostra que existe bem mais que o sal determinando a saúde dos nossos vasos. Um dos principais fatores é o consumo de potássio. A grande diferença está em ingerir comidas frescas e naturais ou comer alimentos industrializados, já que quase 80% do sódio que a média das pessoas ingere vem de comidas processadas.
O sódio é um mineral extremamente importante para o organismo e tem outras funções além de interferir nos níveis de pressão. Em 2011, uma pesquisa mostrou que pessoas que consumiam pouquíssimo sódio desenvolveram maior resistência à insulina, uma condição péssima para a saúde, que indica estarem a caminho de serem diabéticos. Já outro estudo mostrou que a redução drástica no consumo de sal aumentou o nível de triglicerídeos e do cortisol, o hormônio do stress. Em um terceiro, percebeu-se que tanto em um grupo que comia muito sal quanto em outro que comia pouco, os índices de infarto e AVC foram mais altos que naqueles que tiveram um consumo intermediário de sódio. Isso também é válido para o marcador mais esperado: quem tem consumo intermediário de sal vive mais tempo.
O sal está envolvido na eliminação do cortisol. Com pouco sal, ele fica em circulação mais tempo, o que significa mais stress e danos para a saúde. Já em um estágio de stress crônico, com pouco cortisol, muitas pessoas sentem desejo de comidas salgadas. Isso porque eliminam muito sódio e podem inclusive desenvolver arritmias cardíacas pela desproporção entre sódio e outros minerais. Há uma razão para sentirem um alívio quando comem algo muito salgado e esse desejo, como todos os sinais do organismo, não deveria ser ignorado.
Buscar um controle adequado da pressão arterial é importante para a saúde, mas ter um organismo equilibrado vai muito além de ter números ideais na hora de medir a pressão. Muitas vezes, com diuréticos, a pessoa pode estar com a pressão normal e ainda estar sofrendo danos por dentro, com uma situação ainda pior quando eliminando muito sódio junto com outros minerais importantes. Está comprovado que controlar os exames de pressão, apenas tomando remédios para corrigir os números, na maioria das vezes não aumenta a saúde dos vasos, nem o tempo de vida.
Ser saudável vai muito além de evitar o sódio ou reduzir seus níveis artificialmente. Comprar alimentos com “baixo sódio” geralmente é até pior, já que na maioria das vezes eles são adicionados de outras substâncias muito prejudiciais para que fiquem atrativos. O objetivo é o equilíbrio, conquistado através de uma dieta baseada em alimentos frescos e naturais temperados com substâncias diversas, inclusive com sal.